Os Cinco Pontos da Doutrina da Graça
Ao contrário do que muitos pensam, não foi João Calvino quem escreveu “Os Cinco Pontos do Calvinismo”. Estes cinco pontos foram formulados pelo Sínodo de Dort, Sínodo este convocado pelos estados Gerais (da Holanda) e composto por um grupo de 84 Teólogos e 18 representantes seculares, entre esses estavam 27 delegados da Alemanha, Suíça, Inglaterra e outros países da Europa reunidos em 154 Sessões, desde 13 de novembro de 1618 até maio de 1619. Este sistema doutrinário, foi elaborado somente 54 anos após a morte do grande reformador (1509-1564).
Os Cinco Pontos foram formulados em resposta a um documento conhecido na história como ‘Remonstrance’ de alunos de Jacob Hermann (Arminius) que era professor de um seminário holandês. Arminius tinha sérias dúvidas quanto a graça soberana de Deus e era simpatizante de Pelágio e Erasmo, no que se refere a livre vontade do homem.
Este documento formulado pelos alunos de Jacob Arminius tinha como teor cinco principais pontos, conhecidos como “Os Cinco Pontos do Arminianismo”. E como resposta a este Cinco Pontos do Arminianismo, o Sínodo de Dort (1618) elaborou o que conhecemos como “Os Cinco Pontos do Calvinismo”.
Após o Sínodo de Dort se reunir em 154 Sessões num completo exame das doutrinas de Arminius e comparar cuidadosamente seus ensinos com os ensinos das Escrituras Sagradas, os maiores teólogos da época, representando a maioria das Igrejas Reformadas da Europa, concluiu, por unanimidade, que à luz do ensino claro das Escrituras, esses artigos tinham que ser rejeitados como não bíblicos e chegaram à conclusão que os ensinos de Arminius eram heréticos.
O Sínodo, então, formulou o ensino bíblico a respeito desse assunto na forma de cinco capítulos que têm sido conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo”, pelo fato de Calvino ter sido grande defensor e expositor desse assunto.
Estes pontos do calvinismo são conhecidos mundialmente pela palavra TULIP (inglês), um acróstico popular que significa:
T | Total Depravity | Depravação Total |
U | Unconditional Election | Eleição Incondicional |
L | Limited Atonement | Expiação Limitada |
I | Irresistible Grace | Graça Irresistível |
P | Perseverance os Sains | Perseverança dos Santos |
Depravação Total
Devido à queda, o homem é incapaz de, por si mesmo, crer de modo salvador no Evangelho. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas de Deus. Seu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Sua vontade não é livre, pois está escravizada à sua natureza má; por isso ele não irá – e não poderá jamais – escolher o bem e não o mal em assuntos espirituais. Por conseguinte, é preciso a regeneração, pela qual o Espírito vivifica o pecador e lhe dá uma nova natureza. A fé não é algo que o homem dá (contribui) para a salvação, é o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador para Deus.
Textos Bíblicos: Gn 6.5; Gn 8.21; Sl 51.5; Sl 130.3; Ec 9.3; Jr 17.9; Ef 2.1-3; Cl 2.13; Mc 7.21-23; Rm 5.12; Rm 8.7-8; 1Cor 2.14; Ef 5.8; Tt 1.15; Jo 8.44; Ef 2.12; 1Jo 3.10; Jo 8.34; Rm 6.20-23; Tt 3.3; Jó 15.14-16; Pv 20.9; Ec 7.29; Is 53.6; Is 64.6; Rm 3.9-12; 1 Jo 1.8-10;
Eleição Incondicional
A escolha divina de certos indivíduos para a salvação, antes da fundação do mundo, repousou tão somente na soberana vontade de Deus. A eleição não foi determinada nem condicionada por qualquer qualidade ou ato previsto no homem, portanto, a causa última da salvação não é a escolha que o pecador faz de Cristo, mas a escolha que Deus faz do pecador.
Essa eleição é incondicional pois Deus não olha para o homem e suas qualidades (pois se olhasse, merecia o inferno), mas por meio da sua vontade Ele elege brancos, pretos, pobres e ricos, de qualquer continente. Ele amou o mundo sem acepção e não sem exceção.
Os que não foram escolhidos foram preteridos e deixados às suas próprias inclinações e escolhas. Ninguém diante do Juízo final alegará que não cumpriu a sua própria vontade, o que seu coração desejava.
Não cabe à criatura questionar a justiça do Criador por não escolher todos para a salvação. O fato de Deus ter eleito alguns, à exclusão dos outros, não é de forma alguma injusto para os excluídos, a menos que se mantenha que Deus estava na obrigação de prover salvação a todos os pecadores – o que a Bíblia rejeita cabalmente.
Textos Bíblicos: Mt. 20:16; 22:14; 24:22, 31; Mc. 13:20, 27; Lc. 18:7; Rm. 8:28-33; 9:10-24; Ef. 1:3-14; 2 Ts. 2:13; 2 Tm. 1:9; Tg. 2:5; Sl 33.12; Mt 11.27; Rm 11.28; Cl 3.12; 1 Ts 5.9; Tt 1.1; 1 Pe 1.2,8-9; Ap 17.14; 2 Ts 2.13; 2 Tm 1.9; Ap 13.8; Ef 2.10-12; ; Jo 15.16; At 13.48; Rm 11.7; 2 Tm 2:10.
Expiação Limitada
A obra redentora de Cristo foi intencionada para salvar somente os eleitos e, de fato, assegurou a salvação destes. Sua morte foi um sofrimento substitucionário da penalidade do pecado no lugar de certos pecadores específicos. Além de remover o pecado do Seu povo, a redenção de Cristo assegurou tudo que é necessário para a sua salvação, incluindo a fé que os une a Ele. O dom da fé é infalivelmente aplicado pelo Espírito a todos por quem Cristo morreu, deste modo, garantindo a sua salvação.
Isso significa dizer que Jesus não morreu em vão por aqueles que o negariam. Seu sangue foi eficaz e cada gota foi derramada com o proposito de atingir aqueles que Deus elegeu na eternidade, sendo nenhuma gota de seu precioso sangue desperdiçada. Ou seja, sua morte não está subordinada a decisão do homem para ser eficaz. Ela foi perfeita e atingiu o seu proposito determinado: morrer por aqueles que Deus deu ao seu Filho.
“É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”. João 17:9
Textos Bíblicos: Mt 1.21; Mt 26.28; Lc 19.10; 1 Co 1.30; Hb 13.12; Jo 6.35-40; Jo 10.11-18, 26-29; Jo 17.1-11, 20-26; Jo 11.50-53; Ef 1.7,11-12; Gl 1.3-4; Tt 2.14; Rm 5.8-11; Rm 3.24-25; Gl 3.13; 1 Pe 2.24; Tt 3.5-6; Ef 5.25-27; Rm 8.32-34; Hb 9.15,28; Jo 6.37-65; Ap 5.9.
Graça Irresistível (Chamado Eficaz)
Além da chamada externa à salvação, que é feita de modo geral a todos que ouvem o evangelho, o Espírito Santo estende aos eleitos uma chamada especial interna, a qual inevitavelmente os traz à salvação. A chamada externa (que é feita indistintamente a todos) pode ser, e, freqüentemente é, rejeitada; ao passo que a chamada interna (que é feita somente aos eleitos) não pode ser rejeitada. Ela sempre resulta na conversão.
Por meio desta chamada especial o Espírito atrai irresistivelmente pecadores a Cristo. Ele não é limitado em Sua obra de aplicação da salvação pela vontade do homem, nem depende, para o Seu sucesso, da cooperação humana.
O Espírito graciosamente leva o pecador eleito a cooperar, a crer, a arrepender-se, a vir livre e voluntariamente a Cristo. A graça de Deus, portanto, é invencível. Nunca deixa de resultar na salvação daqueles a quem ela é estendida.
Textos Bíblicos: Rm 8.14; 1 Cor 2.11-14; 1 Pe 1.2; 1 Jo 1.12-13; Jo 3.8; Tt 3.5; Dt 30.6; Ez 36.26-27; Ef 2.10; 2 Cor 5.18; Jo 5.21; Ef 2.1-5; Cl 2.13; Mt 11.25-27; Mt 13.16; Lc 8.10; Mt 16.17; Jo 6.37; Jo 6.65; 1 Cor 2.14; Ef 1.17-18; At 11.18; At 13.48; At 16.14; At 18.27; Ef 2.8-9; Fl 1.29; 2 Tm 2.25-26; Rm 8:30; Is 43.1; Gl 1.15-16; Ef 4.4; 2 Tm 1.9; 1 Pe 2.9; 1 Pe 5.10; Is 55.11; Jo 3.27; Rm 9.16; Fl 2.13; Tg 1.18
Perseverança dos Santos
Aquele que crê em Jesus como o seu salvador já tem a vida eterna e passou da morte para a vida. Com isso, todos aqueles que são escolhidos por Deus e a quem o Espírito concedeu a fé, são eternamente salvos. São mantidos na fé pelo poder do Deus Todo Poderoso e nela perseveram até o fim. Ela nos dá garantia de uma viagem segura e nos garante a chegada ao destino final.
O crente continua sujeito às tentações, porém jamais cairão da graça ou perderão a sua condição de salvos. Evidentemente pode haver esfriamento espiritual, e até mesmo o afastamento temporário do salvo na comunhão dos crentes. Porém isso não perdura, pois o verdadeiro cristão tem consigo o Espírito Santo que convence o tempo todo do pecado, da justiça e do juízo.
Textos Bíblicos: João 10:27-29; Mt. 18:12-14; Rm. 6:2, 11, 15 e 22; 1 Tm. 1:12; 1 Co. 1:8; 1 Ts. 5:23-24; João 5:24; Is 43.1-3; Is 54.10; Jr 32.40; Mt Jo 3.36; Jo 6.37-40,47; Jo 10.28; Rm 5.9-10; Rm 8; 1 Cor 1.8; 1 Cor 10.13-17; Ef 1.13-14; Cl 3.3-4; 1 Ts 5.23-24; 2 Tm 4.18; Hb 9.15; Hb 12.28; 1 Pe 1.5; 1 Jo 2.19; 1 Jo 2.25; 1 Jo 5.4,11-20; Jd 1.24-25.
A raça humana pecou, afetando cada área do indivíduo, corpo, espírito, mente, emoções, desejos (Depravação Total). Consequentemente, condenada a morte e impossibilitada de salvar a si mesma.
Por conta disso, na eternidade e na sua soberana vontade, Deus elegeu a muitos pecadores, sem prever fé ou boas obras (Eleição Incondicional) para serem beneficiados por Seu imerecido amor.
Em sua perfeita justiça e amor, Deus enviou seu filho Jesus para morrer pelos eleitos (Expiação Limitada), assumindo os pecados deles e os livrando da condenação.
Por meio do evangelho os eleitos são chamados a conhecer a graça de Deus, e convencidos pelo Espirito Santo de seus pecados, da justiça e do juízo, se tornando incapazes de resistir continuamente a graciosa oferta de Deus (Graça Irresistível) e se entregam totalmente ao senhorio de Jesus.
Nada mais pode separá-los do eterno e imutável amor de Deus. Foram predestinados para a glória eterna e estão, portanto, assegurados para o céu (Perseverança dos Santos).